Participe de nossa pesquisa acadêmica
A manufatura do sisal no semiárido brasileiro é uma atividade profundamente enraizada nas dinâmicas econômicas e socioculturais das comunidades locais, especialmente nos estados da Bahia e da Paraíba. O processo produtivo do sisal é dividido em duas grandes etapas: a primeira onde as folhas da Agave sisalana são colhidas e desfibradas, e a segunda onde as fibras são beneficiadas e transformadas em produtos como cordas, tapetes, mantas e bolsas.
Na fase rural, a atividade é intensiva em mão de obra, envolvendo diversas funções, desde o corte das folhas até o processo de desfibramento e secagem da fibra. Após esse primeiro beneficiamento, o material é transportado para as batedeiras, localizadas nas cidades, onde ocorre o alisamento e classificação das fibras. Além disso, há uma significativa transformação local da matéria-prima, que gera produtos manufaturados como cordas, vassouras, sacolas e tapetes. Esses produtos são valorizados por sua durabilidade, resistência e sustentabilidade, embora a cadeia produtiva ainda enfrente gargalos, como o baixo aproveitamento dos subprodutos do sisal, como pó, sumo e bucha, que poderiam ser fontes adicionais de renda (SANTOS; SILVA, 2017).
Fonte: Caapedia (2025)
O estudo realizado em Remígio, na Paraíba, evidencia como essa cadeia produtiva é sensível às condições climáticas e econômicas. A partir de 2012, fortes secas provocaram quedas expressivas na produção, afetando diretamente a quantidade de sisal processado e, consequentemente, os produtos manufaturados derivados dessa fibra (SABINO et al., 2024). Apesar disso, a fibra de sisal mantém relevância devido às suas propriedades ecológicas — é biodegradável, resistente e possui boa performance como isolante térmico e acústico —, fatores que favorecem sua competitividade frente aos materiais sintéticos em alguns nichos (SABINO et al., 2024).
No contexto da Bahia, o Território do Sisal destaca-se não apenas pela produção da fibra, mas também pela consolidação de experiências associativas e cooperativas que buscam agregar valor à produção por meio da manufatura. Contudo, os desafios persistem, como baixos níveis de mecanização, dependência do mercado externo e pouca diversificação dos produtos. A manufatura do sisal representa, portanto, tanto uma oportunidade econômica quanto um reflexo das limitações estruturais enfrentadas pela agricultura familiar no semiárido (LOPES; PEREIRA; FEIDEN, 2024).
REFERÊNCIAS
LOPES, Marcio Rodrigo Caetano de Azevedo; PEREIRA, Geusa da Purificação; FEIDEN, Armin. A agricultura familiar do Território do Sisal no estado da Bahia: um retrato a partir do Censo Agropecuário 2017. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 55, n. 3, p. 116–135, 2024. Disponível em: https://www.bnb.gov.br/revista/ren/article/view/1541. Acesso em: 21 maio 2025.
SABINO, Bruna Thalia Silveira et al. A produção de sisal em Remígio, Curimataú Ocidental da Paraíba: uma análise interanual (2001-2021). Revista Univap, São José dos Campos, v. 30, n. 68, 2024. Disponível em: https://revista.univap.br/index.php/revistaunivap/article/view/4490. Acesso em: 21 maio 2025.
SANTOS, Edinusia Moreira Carneiro; SILVA, Onildo Araujo. SISAL NA BAHIA - BRASIL. Mercator (Fortaleza), v. 16, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/mercator/a/zgv6pRK4ZhTzNhhh7jy6KpH/. Acesso em: 30 jan. 2025.