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A produção de manga no semiárido brasileiro, especialmente na região do Vale do Submédio São Francisco, desempenha um papel fundamental tanto no aspecto econômico quanto sociocultural. A manga, particularmente das variedades Tommy Atkins e Palmer, é cultivada em sistemas que vão desde a agricultura familiar até grandes empreendimentos voltados à exportação. No âmbito cultural, o cultivo da manga consolidou-se como uma atividade de relevância histórica e simbólica nas comunidades rurais do semiárido, sendo prática recorrente na agricultura familiar. O comércio da fruta, frequentemente realizado diretamente no pomar, integra-se às rotinas locais e aos mercados regionais, como o Mercado do Produtor de Juazeiro, na Bahia, sendo uma expressão da conexão entre produção agrícola e identidade regional (SILVA et al., 2024).
A agricultura familiar é a base da fruticultura no semiárido, contribuindo significativamente para a segurança alimentar, geração de renda e fixação das famílias no campo. Esses sistemas agroecológicos são marcados pela diversidade produtiva e pelo manejo sustentável dos recursos naturais, destacando-se o uso de adubos orgânicos como o esterco curtido, a adoção de práticas manuais de manejo, e a implementação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), que além de auxiliarem na produção de alimentos, promovem a conservação da Caatinga e o equilíbrio ambiental local (SILVA et al., 2024). O protagonismo dos agricultores no planejamento e condução das atividades produtivas reforça a autonomia e a resiliência desses sistemas frente às adversidades climáticas e de mercado.
Fonte: Caapedia (2025)
No que se refere às técnicas de cultivo, o cultivo irrigado é baseado em práticas como o uso racional de defensivos, análise periódica de solo e foliar, irrigação orientada por dados climáticos e sistemas de rastreabilidade. Essa abordagem é comum nos perímetros irrigados de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), onde se concentram a maior parte da manga destinada à exportação brasileira. O sistema de produção integrada, promovido pela Embrapa Semiárido, busca alinhar produtividade com exigências ambientais e sanitárias, gerando frutos de alta qualidade com menores resíduos químicos e melhor aceitação nos mercados internacionais (ARAÚJO et al., 2012).
Por outro lado, o cultivo de sequeiro, que depende exclusivamente das chuvas, é limitado pela irregularidade hídrica da região, mas ainda é praticado por pequenos produtores em áreas onde a irrigação não é viável. Estudos demonstram que, mesmo sob essas condições adversas, o cultivo da manga pode ser sustentável quando orientado por práticas adaptativas, como o uso de variedades resistentes à seca e técnicas de manejo conservacionistas. A pesquisa comparativa entre os sistemas irrigado e de sequeiro, utilizando o método MESMIS, revelou que ambos podem contribuir para o desenvolvimento rural sustentável, desde que adequadamente adaptados às realidades locais e geridos de forma participativa pelos agricultores (SILVA; CAMELO, 2019).
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, José Lincoln Pinheiro; CORREIA, Rebert Coelho; ARAÚJO, Edilson Pinheiro. Viabilidade econômica dos sistemas de cultivo convencional e integrado da manga na região do vale do Submédio São Francisco. In: GUIDUCCI, R. do C. N.; LIMA FILHO, J. R. de; MOTA, M. M. (ed.). Viabilidade econômica de sistemas de produção agropecuários: metodologia e estudos de caso. Brasília, DF: Embrapa, 2012. cap. 5, p. 303-349. ISBN 978-85-7035-168-5. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/960517. Acesso em: 23 abr. 2025.
SILVA, Ana Caroline Coelho Pereira da et al. Diagnóstico e caracterização de um agroecossistema de agricultura familiar localizado no povoado do Capim, Petrolina/PE. Cadernos de Agroecologia, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, Anais do XII Congresso Brasileiro de Agroecologia, 2024. ISSN 2236-7934. Disponível em: https://cadernos.aba-agroecologia.org.br/cadernos/article/view/7829. Acesso em: 10 fev. 2025.
SILVA, Houtran Lima; CAMELO, Gerda Lúcia Pinheiro. Sustentabilidade de agroecossistemas familiares de cultivo de manga irrigada versus sequeiro: aplicação do MESMIS. Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais, v. 10, n. 4, p. 191–208, jun./jul. 2019. DOI: 10.6008/CBPC2179-6858.2019.004.0015. Disponível em: https://www.sustenere.inf.br/index.php/rica/article/view/CBPC2179-6858.2019.004.0015/1686. Acesso em: 10 fev. 2025.