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O cultivo do feijão no semiárido brasileiro representa uma das principais atividades da agricultura familiar, sendo essencial para a segurança alimentar e geração de renda das comunidades rurais. As espécies mais cultivadas são o feijão-de-corda (Vigna unguiculata) e o feijão-comum (Phaseolus vulgaris), ambas adaptadas às condições de clima quente, solos de baixa fertilidade e longos períodos de estiagem característicos da região.
Contudo, as limitações impostas pela irregularidade das chuvas, somadas às altas temperaturas e à baixa capacidade de armazenamento de água no solo, tornam essa atividade um desafio constante. O sistema de preparo do solo adotado tradicionalmente por pequenos produtores, realizado manualmente com enxada, não promove melhorias na estrutura do solo, o que resulta em menor infiltração e maior propensão ao déficit hídrico, mesmo em anos com chuvas dentro da média histórica (FERNANDES et al., 2015).
O estresse hídrico, especialmente durante as fases de floração e enchimento de grãos, reduz significativamente o desempenho fisiológico das plantas, afetando processos como fotossíntese, transpiração e condutância estomática, o que compromete diretamente o rendimento das lavouras. Para enfrentar esses desafios, a adoção de práticas de manejo conservacionista é fundamental, sendo destacadas a subsolagem, a captação de água in situ, o uso de cobertura morta e a compostagem, que promovem melhorias na capacidade de retenção de água do solo e, consequentemente, maior estabilidade produtiva, com aumentos de produtividade que podem superar 40% em relação aos sistemas convencionais (FERNANDES et al., 2015).
Fonte: Caapedia (2025)
Paralelamente, esforços de melhoramento genético têm buscado desenvolver variedades mais tolerantes à seca e adaptadas às condições do semiárido. Estudos conduzidos pela Embrapa Semiárido identificaram genótipos de feijão-comum, como CNFP17488, CNFP17503 e CNFC17208, que apresentaram produtividades superiores a 1.400 kg/ha, superando amplamente a média regional, que gira em torno de 340 kg/ha (CALGARO et al., 2019). Esses resultados demonstram a importância do uso de materiais genéticos adaptados, que associados ao manejo adequado do solo, garantem maior segurança produtiva às famílias agricultoras da região. Além disso, fortalecer a diversificação produtiva, incorporando espécies nativas e adaptadas, é uma estratégia sustentável, que melhora a resiliência dos sistemas agrícolas frente às mudanças climáticas e contribui para a conservação da biodiversidade regional (CORADIN; CAMILLO; PAREYN, 2018).
REFERÊNCIAS
CALGARO, Marcelo et al. Produção de genótipos de feijão-comum com tolerância à seca no Semiárido brasileiro. In: INOVAGRI INTERNATIONAL MEETING, 5.; CONGRESSO NACIONAL DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM, 28.; SIMPÓSIO LATINO AMERICANO DE SALINIDADE, 1., 2019, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Instituto de Pesquisa e Inovação na Agricultura Irrigada: UFC: ABID, 2019. Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/handle/doc/1115031. Acesso em: 21 maio 2025.
CORADIN, Lidio; CAMILLO, Julcéia; PAREYN, Frans Germain Corneel (Ed.). Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro: região Nordeste. Brasília, DF: MMA, 2018. (Série Biodiversidade; 51) Disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade-e-biomas/biodiversidade1/copy_of_LivroNordeste21122018.pdf. Acesso em: 11 mar. 2025.
FERNANDES, Francisco Bergson Parente et al. Efeito de manejos do solo no déficit hídrico, trocas gasosas e rendimento do feijão-de-corda no semiárido. Revista Ciência Agronômica, v. 46, n. 3, p. 506–515, jul. 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rca/a/gtBGmcXD49cfT7PbWL3PkPs. Acesso em: 11 jan. 2025.